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Sobre (des)lembrar, de Matheus Viana


Queria, Maximin, voltar contigo àquele tempo

em que não fora criada a palavra desejo, só havia este, este (não diga) de esticar os dedos e fazê-los correr por entre teus cachos de lã. Ricardo Domeneck



Não passa das sete na noite, o parque de diversões ainda está cheio, do pico de uma planície, não muito longe da portaria, ainda é possível ouvir crianças gritando por toda parte e sentir o cheiro da pipoca doce, mas ali, naquele momento, somos somente nós dois e as estrelas.


Fecho os olhos ainda em tempo de vislumbrar o sorriso desenhado em teus lábios, o tempo a nossa volta parece desacelerar, os sons indistintos que invadiam meus ouvidos se silenciam, meus sentidos se aguçam à medida que me aproximo de ti, o calor que emana de tua pele me atrai como imã ao teu encontro, um arrepio sobe-me a espinha quando tuas mãos quentes firmemente encostam-me a nuca nua pressionando cada dedo compassadamente em minha pele, meus músculos relaxam em deleite aos teus toques, meus poros dilatam-se produzindo transpiração fria que refresca as ondas de calor que se movimentam sem pudor dentro de meu corpo, nossos rostos estão tão próximos que o aroma doce de tua boca adentra-me as narinas, como se uma brisa fresca trouxesse consigo o cheiro de morangos silvestres recém colhidos, finalmente sinto teus lábios macios semiabertos tocando a pele de minha maçã do rosto, passeando delicadamente até parar ao canto de meus lábios, a sensação é acolhedora, convidativa, meus lábios antes tensos, entendem o recado e relaxam sob os teus, que juntam-se a dançar em ritmo lento, prudentes eles se conhecem, se desejam, aos poucos se abrem, se divertem, como se tivessem todo o tempo do mundo, já íntimos se desejam ainda mais, se entregam, a dança se torna descompassada e frenética, nossos lábios se comprimem, nossas línguas se entrelaçam, nossos corpos aproximam-se cada vez mais, a temperatura se mistura a ponto de eu não ser capaz de discernir onde o teu corpo começa e o meu termina, fundimo-nos, somos só batimentos cardíacos pulsando em uníssono, sinto-me guiado por uma força a qual não consigo descrever, já não estou no controle, me falta ar, insisto para que esse momento não termine, logo sinto meus lábios dormentes, nossas investidas causam formigamentos que ora são bons, ora nem tanto, a dança frenética desacelera, as carícias perdem intensidade, mas nossos corpos não se cansam do toque um do outro, continuam juntos compartilhando uma energia terna que preenche-os, o tempo retorna à sua velocidade, posso ouvir toda a algazarra de sons a nossa volta, posso ouvir sua respiração enquanto você se afasta, insisto em não querer abrir meus olhos para não perder esse momento, mas quando torno a abri-los o sorriso desenhado em teus lábios ainda está lá, resplandecente.



Assim como esse momento, nossa história juntos findou-se, mas desde então essa lembrança me acompanha, como um fantasma. Hoje, finalmente decidi escrevê-la e entregá-la ao mar para que se vá, como tu foste.


 

Matheus Viana tem 26 anos, reside na região metropolitana de Belo Horizonte, é discente do bacharelado em Letras com especialização em Edição à UFMG e atua como estagiário em Redação. Além da escrita, Matheus Viana (@matthewsvianna) também se expressa através do projeto que idealizou de fotografia por dispositivos móveis no Instagram, o @prismattco.

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