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Poema de Paula Maria

escrever

como se isso pudesse enfim me salvar do que tanto acredito escapar.


escrever

já faz tanto tempo que me arrasto pelo corredor

que perdi a referência de hora minuto dia ou noite

como se fosse infinita a vida que me habita

como se fosse calma e contida

a emoção de me perceber viva.

se eu soubesse ao menos tirar daqui de dentro

a carne que me compõe, mas que também já apodreceu

como se eu pudesse amputar o sentimento de não pertença

e a vontade infinita de ser amada.


escrever

ser incongruente na fala e nas palavras que registro

aqui, ali, em todo lugar

como se ao registrar num léxico

eu alcançasse a liberdade de ser

como se ao rabiscar essas palavras letras espaços

eu me permitisse a coragem de perder o controle.


escrever

um modo de registrar estes pensamentos-flexas

que me atravessam, me machucam e também me suportam.

se eu contasse a vocês o que se passa do lado de dentro,

talvez eu não precisasse fugir

- porque vocês já́ teriam corrido primeiro.


escrever

como se ao me afastar de tudo e todos

eu parasse de tentar ser aquilo que não suporto

e, então, poderia vagar por todos os espaços

sem me sentir perdida, apenas sem direção.


escrever

como um modo antigo, tosco e quase inocente de sobrevivência

ser frágil em toda intensidade que o papel e caneta permitem.


escrever

pois aqui tenho-me inteira

e ninguém precisa levar se não for levar tudo.



 

Paula Maria é capixaba de Vila Velha/ES, escritora, psicóloga, artista visual e pesquisadora autônoma. Gosta de escutar, de falar e de aprender coisas novas para dar contorno aos sentimentos. Publicou seu primeiro texto em livro no Cartas de uma Pandemia em 2021, pela Editora Claraboia, mas escreve desde que se entendo por gente.


@teescrevocartas

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