top of page
  • Foto do escritorMargem

Encontros Alteristas, de Débora Mendes (Parte I)

Nesse mundo de encontros e desencontros que é a pequena Belo Horizonte (todo mundo conhece alguém que conhece alguém e todos se conhecem), descobri um alguém que não conhecia meus pares. Constantemente, eu estava com rapazes... estar com eles não significava que eu me sentia preenchida, eu era excessivamente perfeccionista, esses rapazes representavam partes de um homem ideal. O homem ideal buscado por mim representava vazios deixados ao longo do tempo... A questão do "financeiramente bem" incluía-se nestes vazios. O vazio deixado pelo dinheiro começa quando uma garotinha quer fazer balé, entretanto, todos sabem que para os mais pobres querer é uma questão e poder é outra questão analisada a parte. Desde esse dia, percebi que o dinheiro seria um obstáculo a ser superado.


Esse alguém encontrado por mim era um homem de nome comum, tão comum que ele chamava-se João. Porém, este João não era um João do bar, da esquina, ou de qualquer outro lugar, eu podia compará-lo a João VI, ele tinha uma tradicionalidade desde seus antecedentes até o império obtido por ele ao construir uma carreira sólida em cima de seu sobrenome. A família de João era extremamente rica, pai e mãe casados a mais de 40 anos... quanta perfeição, remonte de tradições. Nos conhecemos, e ele ainda fazia seu doutorado. Eu iniciava a minha carreira acadêmica. Tínhamos uma diferença de idade e de aparência, mas tudo era equilibrado pelo meio que vivíamos.


Apesar do meu nome incomum, Matilde, eu pertencia a um mundo comum, não era o mesmo mundo de João, de meu João VI. As nossas diferenças eram exorbitantes e nos equilibrávamos entre elas. João se apaixonou pelo meu corpo, dizia-me todos os dias o quão eram belas as feições de meu corpo, de minhas singulares curvas. Eu queria saber tudo sobre suas viagens, suas aventuras, aliás, eu necessitava conhecer a Europa, e meu culto amor me levaria a conhecer algum dia. Em meus desejos mais profundos, eu descobriria o mundo junto a João, junto ao seu olhar já experiente.


João tinha em torno de 1,70m de altura (eu gostava de homens altos), olhos esverdeados (eu gostava de cores diferentes), cabelos castanhos quase loiros ( até gostava dessa cor) e seu corpo era o mais comum possível, porém seu tronco era mais gordo que suas pernas, sua inteligência e seu cavalheirismos eram instigantes. Eu tinha em torno de 1,65m de altura, cabelos médios bastante cacheados, pele escura, unhas delicadas e seios avantajados. Todas essas características encantavam e excitavam João, as duas coisas ao mesmo tempo.


O nosso encontro foi ao acaso, estávamos visitando a mesma exposição, em um mesmo dia e em um mesmo horário. Absorvida por um quadro a minha frente de diversas cores e formas, voltei ao tempo, o qual eu não fazia ideia do que seria a arte e disse em voz alta sem pensar:


‒ Será que eu já tenho alguma ideia ou continuo sem entender?


‒ Não sei você, mas eu acho a arte complexa. Neste momento, estou diante de uma obra, me sinto Modigliane em frente a uma tela recém pintada, em contato com demasiada perfeição que você representa.


João apresentou-se a mim desta maneira, e confesso que fiquei nervosa, alguma coisa me chamara a atenção naquele homem de 30 e poucos anos. Modigliane pintava muitos corpos nus, o erótico estava presente em seus quadros, em sua vida boêmia, como eu gostava disso... Corpos sempre trouxeram uma expressão para mim, eu idolatrava o nu. Rapidamente, respondi:


‒ Vai tentar me entender ou quer apenas apreciar-me e desfrutar desta obra contemporânea?


‒ Sinto que pra compreendê-la, preciso apreciá-la e desfrutá-la. Hoje seria um ótimo dia para você conhecer um estranho que se chama João de Albuquerque.


‒ Da família Albuquerque?


‒ Exato. Sou neto de Pedro de Albuquerque.


A família de João era uma das mais ricas e poderosas de Minas Gerais, eles possuíam empresas espalhadas por Belo Horizonte, entretanto, o que mais gerava lucro era a empresa de produção de café e suas filiais. Eu vinha de uma família com origem comum, sobrenome sem força no mercado. Apresentei-me a ele:


‒ Me chamo Matilde e não acho que meu sobrenome seja importante para esta conversa.


‒ Para mim, tudo em você é importante, você é a obra que quero explorar e percorrer externamente e internamente.


Fomos para o café no mesmo local da exposição modernista que acontecia naquela semana. O meu café pedi que fosse forte e amargo, este tipo de café me representava. João pediu um cappuccino. Apreciamos o café envolvidos pela tarde fria de BH. Eu vestia um vestido preto de manga longa, porém curto. Para contrapor, uma meia calça preta cobria toda minha perna com cor e tecido, pois o frio fazia sentido para mim naquela tarde.


João, sentado a minha frente, contou sobre sua tumultuada vida, suas viagens, seus negócios. Também contei sobre minha vida, meu trabalho, meus projetos, meu curso. Eu cursava Dança e contei como adorava dançar, disse que cada parte do meu corpo conseguia libertar partes de mim assim como minhas expressões mais profundas. Ao dizer isso, comecei a acariciá-lo por baixo da mesa com meu pé esquerdo, sem sapato, ele dançava do calcanhar até as coxas e entre as pernas. Sentia um volume expressivo quando meu pé subia e chegava as suas coxas. João segurou minha mão...


‒ Não sei se sente o mesmo, mas gostaria de sair daqui, queria que você estivesse exposta à minha frente livre de qualquer roupa, gostaria de admirá-la.


‒ Você quer me assustar? Devo confiar o meu corpo e a minha vida a um estranho que acabo de acariciar e que está altamente excitado?


‒ Não sou um estranho, você conhece a minha família, além do café que acabamos de tomar, passamos um tempo juntos, ou seja, deixei de ser estranho.


Aqueles olhos verdes assim como aquelas palavras me seduziram de certa forma que aceitei o convite. Já havia encontrado desconhecidos que não tinham sobrenome como o de João, não aconteceu nada nesses encontros, ou aconteceu tudo o que deveria acontecer. Eu vivia cada dia mais em cada encontro. […]

 

Conto I de "A arte da excitação".

Continuação dia 11 de fevereiro.

 

Débora Mendes é graduada em Letras pela UFMG, mineira de Belo Horizonte, adora literatura e ama romances. Atualmente, é professora de Português e produtora de conteúdo, além de ser amante do universo da escrita!

155 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page