"Acima" e "Inventário", de Raphael Morone
Acima
Muradas em pau a pique
alvacentas repousam silenciosas
a vastidão da planície
na alfombra de argila
e óxido de ferro
superam
o topo da cordilheira
Inventário
Na ponte da estação
o ar e a geografia eram
fortunas e cornucópias
velhos carteavam silenciosos
os trilhos vibravam retilíneos
a aposta era feita na portinhola
e de um dia pro outro
as greves, as tormentas
cobriram os viadutos
a FM anunciava como pardais
no beiral do edifício
e a passarada voejou alvoroçada
e, na primavera
o sol atingia pela quarta vez o escorpião
era visto pelo pégaso e a cabra
que se bastavam no céu
Raphael Morone é santista e mora em Belo Horizonte desde 2015. Escreve, desenha, pinta e busca, em gestos não tão acabados, tocar um tempo outro. Está presente quase sempre no instagram.com/raphaelmorone.